Jornal Agora (Mandaguari) conta a comovente história de Antônio Cioni Sobrinho, o “Véio do Rio”, que esconde atrás da alegria e irreverência, a dor da perda de um filho
por Fernando Damas, para o Jornal Agora em 10/11/2015
[dropcap]S[/dropcap]e alguém for a Marumbi e perguntar por Antônio Cioni Sobrinho, possivelmente nenhum morador da cidade saberá responder quem é. Mas se você falar que procura pelo “Véio do Rio”, todos, com uma feição de felicidade, indicará o “rancho” onde ele mora com a esposa, dona Lúcia, na zona rural do município.
Hoje, com 61 anos, o Véio do Rio transmite alegria por onde passa, principalmente pelas “engenhocas” que inventa. Sempre que pode, ele anda com uma prancha de madeira atrelada ao cavalo e uma fantasia de bruxo e passeia pelas ruas de Marumbi e, às vezes, até mesmo por outras cidades da região. Ele participou este ano, por exemplo, da Calvagada em Mandaguari.
[dropcap]A[/dropcap] curiosidade com relação ao homem que existe por trás da fantasia é grande, e Antônio contou à equipe do Jornal Agora a sua história. “Eu nasci em Cruzália, interior de São Paulo, uma cidade bem pequena, perto de Assis. Eu e minha família viemos para o Paraná no ano de 1973, e nos mudamos para Itacolomi, que na época era apenas um distrito de Cambira, hoje já é um município independente, o Novo Itacolomi. De lá fui para Ortigueira, Apucarana e agora estou aqui em Marumbi”, descreveu.
“O povo fala que eu gosto de mudar, mas é a sina que a gente carrega. Antigamente as minhas galinhas e meus cachorros não podiam ver um caminhão, que já pulavam em cima, não precisava nem correr atrás. O bom é quando se muda para uma casa, o duro é ir e ficar para sempre no cemitério”, brincou ele.
[dropcap]E[/dropcap]ntre uma mudança e outra, Antônio casou-se com Lúcia, com quem teve dois filhos: Leandro e José. “Desde pequeno, aprendi a trabalhar, a minha vida foi sempre lidar com animais. A gente cuidou de cavalo, gado, carneiro. Quando eu tinha 16 anos cheguei a tirar cerca de 180 litros de leite”, relembrou.
“Quando dava umas quatro horas da manhã, meu pai gritava: ‘Toninho, levanta, rapaz’. Eu acordava e no fogão a lenha já tinha o cafezinho saindo, fumaça no bule e aquele pão caseiro, que era uma delícia. Na época de geada, a gente andada e ia quebrando o gelo por baixo dos pés”, comentou Antônio.
[dropcap]M[/dropcap]orando há mais de 10 anos em Marumbi, o Véio do Rio já adquiriu a confiança de muitas pessoas. “Hoje sou funcionário do seu Rubens Labegalini, que para mim é como um irmão. Acolheu-me em sua propriedade, onde ele me dá a liberdade para trabalhar do meu jeito, não palpita muito no que eu faço, não”, disse.
Segundo ele, a criatividade de construir as “engenhocas” surgiu na infância. “Meu pai construía cercas e, vira e mexe, tinha umas tábuas em mãos, que enganchava nos burros e nos arrastava para cima e para baixo, no sítio onde morávamos. Um dia, eu estava aqui no sítio e pensei: ‘vou fazer igual o meu pai’. Tinha uma égua meio doida no pasto, amansei-a e sempre que posso dou umas voltinhas com ela”, explicou.
[dropcap]A[/dropcap] sua última invenção foi amarrar uma cadeira, em cima de uma prancha de madeira, para passear pelas ruas de Marumbi e também nas cavalgadas que participa na região, com um pouco mais de conforto. “Andando com minha eguinha, consigo até dar um ‘cavalinho de pau’. Graças a Deus sou muito querido por aqui, virei até Papai Noel”, contou.
Morte do primeiro filho
[dropcap]Q[/dropcap]uestionado há quanto tempo não faz a barba, Antônio se emocionou e explicou a história. “Em 2007 meu filho mais velho, o Leandro, que tinha 23 anos, estava andando de bicicleta em Apucarana, quando escapou o guidão e ele bateu com a cabeça em um poste. Foram dias difíceis, ele ficou internado na UTI, mas uns dias depois ele morreu”, contou.
“Antigamente, quando morria um ente querido, se colocava uma fita preta nas roupas, em sinal de luto. Quando meu filho morreu, resolvi deixar a barba crescer, como forma de prestar uma homenagem a ele. Nunca vou cortar, essa é a lembrança do meu filho”, ressaltou Antônio.